quarta-feira, fevereiro 01, 2012

A Caderneta Herética

A colecção da Panini 1990/91 apresentou alguns erros na identificação dos cromos. Mais que erros, autênticas heresias que devem vexar até ao final dos dias os seus responsáveis, tamanha a afronta à sapiência do povo da bola. Logo na parte de trás da capa, surge um co-responsável por esta infâmia.
Sim senhor, as palavras são bonitas... vamos então à acção?
Esta estrela de Hollywood dos anos 40 com cara de quem acabou de vir do cabeleireiro é mesmo aquela que vocês estão a pensar: José Couceiro, à altura presidente do Sindicato de Jogadores. Se não foi o melhor dos presidentes, foi certamente o mais glamouroso numa área, a sindical, onde ainda hoje é possível encontrar carecas com um fiozinho de cabelo penteado para o lado e bigodes com vestígios de pão com chouriço e tintol.
Conhecida a relação de Couceiro com o Sporting, é, curiosamente, a parte relativa ao Sporting a que mais erros possui. Para além do colossal erro já linkado, eis outra falha, mais subtil, mas nem por isso irrelevante.
Pois bem, este João Luís não era defesa (e se realmente o foi, tal aconteceu apenas de forma involuntária). Os mais antigos reconhecê-lo-ão como o João Luís II, precisamente o segundo João Luís a chegar ao plantel do Sporting nessa época. O João Luís que a caderneta pretendia ilustrar era o João Luís I, brasileiro e defesa-direito de qualidade razoavelmente superior à do Gil Baiano, justo merecedor da honra paninesca. Porém, o João Luís que aqui aparece no cromo era viseense, avançado e, pela cara, podia estar a trabalhar ao balcão da pastelaria da tua rua.
Mas, por acaso, convenceu alguma gente que marcaria golos melhor do que servia palmieres e cafés curtos. Esta já era a sua segunda passagem pelo reduto dos leões, mas ele nunca foi mais que uma segunda opção (quando não terceira ou quarta), pelo que o apodo “II” estava mais que justificado deste ponto de vista. Na sua 1ª passagem, marcou 1 golo em 141 minutos para o campeonato, obtendo uma média melhor que Jorge Plácido (2 golos em 1110 minutos) ou Rui Maside (que não fez sequer balançar a rede nos seus quase 600 minutos em campo). Apesar dos números superiores aos da concorrência, o pecúlio foi considerado insuficiente e ele foi dar uma volta a Santa Maria da Feira para espairecer. Voltaria um ano depois e o seu ponto alto foi justamente figurar nesta caderneta de forma equívoca, porque os golos e os minutos continuariam arredados deste eterno nº16. Acabados os tempos de Alvalade, Amadora e a Viseu natal foram os destinos seguintes e João Luís, mesmo já sem o incómodo II a perseguir-lhe, manteve-se longe dos grandes palcos e a facturar com uma cadência tranquila, como era o seu apanágio.
Toda esta confusão poderia ter sido evitada se lhe fosse atribuído um terceiro nome e não um algarismo dinástico levemente preguiçoso – algo que só começou a ser corrigido quando José Nuno Azevedo e José Nuno Amaro decretaram o fim desta mania e orgulhosamente impuseram os seus apelidos à comunidade da bola, para deleite dos Joões Manuéis Pintos e dos Nunos Andrés Coelhos que se seguiriam.
Mais aturdidos ficámos nós, contudo, ao detectar a seguinte gralha imperdoável:
Sabemos que Manuel Correia e Vicente eram quase irmãos. Que nasceram perto um do outro e com pouca diferença de tempo. Que juntos escreveram páginas indeléveis de heróica traulitada em defesa da honra primodivisionária flaviense. Que até partilharam um corte de cabelo à tigela. Mas, que diabo: o bigode marialva de Manuel Correia e a experiência de vida espelhada nos fortes vincos da face de Vicente eram inconfundíveis. Shame on you, Panini.

1 comentário:

Anónimo disse...

Já na caderneta 96-97 (acho eu) aquilo era um fartote de gralhas: só de memória lembro-me dos cromos do Bolinhas e do Artur Jorge no Sp. Espinho, em que a foto de ambos era exactamente a mesma. Num deles estava ampliada, o que me leva a crer que eles não tinham a foto de um deles e quiseram mesmo passar a perna ao pobre coleccionador.

Mas o melhor era mesmo a página do D. Chaves, em que uns 4 ou 5 cromos tinham o jogador errado (incluindo a carranca em miniatura que vinha na parte superior esquerda dos cromos). Raúl, Sabou, Toninho Cruz e mais uns craques de que agora não me lembro foram afectados.

Mas estas gralhas até acabam por valorizar a colecção:p

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